POMAR EM PERMACULTURA

Um pomar em permacultura não é apenas um pomar cultivado pelo método biológico é muito mais do que isso. Vai também além do agro-silvo-pastoril, porque no fim torna-se num modo de estar na vida. É um pomar que tenta reproduzir o que se passa na natureza, em que tudo foi concebido para favorecer a biodiversidade e funcionar em conjunto, como um verdadeiro ecossistema.

É um projecto a longo prazo pois nos três primeiros anos pouca ou nenhuma produtividade terá, é o tempo de instalação e crescimento das frutíferas. É um modelo em evolução continua, pois aprendemos continuamente e adaptamo-nos fazendo os ajustes necessários.

De região para região as coisas funcionam de modo diferente, por isso há que procurar o que funciona em cada região e adaptarmo-nos ao ambiente e clima da região. Mas em Portugal, temos a vantagem de ter um clima que propicia uma grandiosa variedade de espécies e variedades de frutíferas, arbustos frutíferos e hortícolas a que podemos recorrer, pois quase tudo pode ser cultivado no nosso país. É também uma oportunidade para preservar e mesmo salvar as variedades regionais.

Mas basicamente, podemos dizer que um pomar em permacultura tem por base a diversidade e a complementaridade. Em vez de plantarmos um pomar em monocultura (só pêssegos, ou só pêras, ou só maçãs...) vamos começar por plantar um pomar em associação ou consociação de culturas, dando lugar também aos fixadores de azoto. E vamos excluir os agro-tóxicos. Vamos cultivar apenas biologicamente (até porque a tendência é para os químicos virem a ser totalmente proibidos na Europa).

O desenho da permacultura é a base para a diversidade e para nos orientar na construção de um pomar deste tipo. Em vez de plantarmos linhas de uma só cultura ou de uma só espécie de árvores, vamos misturar tudo, como faz a natureza. Vamos fazer associações de árvores e arbustos que sejam favoráveis, uns aos outros. Podemos seguir a regra da trilogia, por exemplo, inspirados no que se faz nas «Fermes Miracles» no Quebec. Ou seja, vamos plantar em linha, uma macieira, seguida de um fixador de azoto (ex: Pilriteiro - Crataegus monogyna - e o seu fruto é comestível; tal como a Feijoa - Acca sellowiana - cujo fruto também é comestível; a Moringa - Moringa oleifera - cujas folhas e vagens de altíssimo valor nutricional, são utilizadas na alimentação humana), seguida de uma ameixeira (ou de uma pereira, ou de uma cerejeira), e repetimos, o esquema ao longo da linha, mas não repetimos a variedade. Mudamos de variedade a cada trio. 

Como em Portugal temos tantas possibilidades, na linha seguinte mudamos não só de variedade mas também de espécies. Teremos assim, um pomar variado, rico, em que evitamos as pragas especificas de um pomar em monocultura. A biodiversidade é a primeira regra para defesa das culturas. Permite-se que as árvores ganhem as suas defesas próprias. 

Claro que podemos gerir as variedades em linha em termos de amadurecimento. Ou seja, colocar juntas, as variedades que amadurecem em Junho, depois as que amadurecem em Agosto, as de Outubro e assim sucessivamente, pois facilitará os trabalhos de manutenção e colheita. Enquanto estamos a colher as frutas de um mês as outras não nos ocupamos delas, pois cada linha amadurece em épocas diferentes.

Além disso, em baixo das árvores podemos instalar uma cultura anual que complemente o nosso rendimento. Ou cultivar leguminosas que vão servir de adubo verde para as frutíferas. Cultivar flores e aromáticas que atraem insectos nocivos às árvores que irão para as flores e deixam as frutas seguirem sua maturação. Entre as linhas pode-se ainda deixar andar os animais domésticos como galinhas, patos, perus, ovelhas (cabras não que comem as folhas das árvores e estragam tudo), que além de manterem os caminhos com erva curta, também ajudam a adubar. É importante que a terra nunca esteja a nu.

Pratica-se a palhagem pois é preciso no Verão para evitar perdas de humidade e no Inverno para evitar encharcamento. Por sua vez, ao decompor-se, a palha ajuda a enriquecer o solo. Além disso, podemos triturar todas as sobras verdes do pomar (folhas, restos de poda) e espalhar debaixo da árvore, junto ao pé pois ao decompor-se esta matéria verde aduba o solo (no fundo é repetir o que faz a Natureza). O resultado é fantástico, inacreditável. O solo fica fofo e enriquecido, melhorando a sua textura a cada ano. É um ecossistema que se instala e não apenas um pomar. Porque com este sistema chegam também os polinizadores, os famosos auxiliares (Insectos, aves, etc).


Podemos (e devemos), partilhar ainda alguns frutos com os animais que nos auxiliam não só os domésticos, mas também insectos polinizadores e pássaros. A cada ano que passa um pomar instalado deste modo vai enriquecer-se e enriquecer o solo cada vez mais. Será cada vez mais abundante e resiliente a cada ano, pois terá cada vez maior diversidade de insectos e pássaros; os fixadores de azoto cumprirão a sua missão; e o ecossistema criado se aperfeiçoará todos os anos, de si mesmo.

Claro que se faz a manutenção de cada árvore, com podas e vigilância para prevenir a instalação de pragas que, serão muito menos frequentes e atingirão apenas uma ou outra árvore, porque a outra que poderiam atingir está longe daquela variedade. É uma biodiversidade funcional.

Leia também: A PÁGINA DAS NOVAS TÉCNICAS AGRÍCOLAS E A PERMACULTURA
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2 comentários:

  1. Boa tarde,
    Gostaria de me iniciar na permacultura com o pomar e queria saber se me pode ajudar a encontrar informação sobre as tais sequências que fala, por tipo de árvore e por época, ou exemplos.
    obrigado

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  2. Bom dia
    Que arbustos fixadores de Azoto posso plantar nas linhas do Pomar em Portugal?

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