COMO AUMENTAR A FERTILIDADE DO SOLO?

A fertilidade do solo é segundo a FAO - Food and Agriculture Organization  of ONU (2015) a «capacidade do solo em fornecer às plantas os nutrientes essenciais e água, nas quantidades e proporções adequadas ao seu crescimento e desenvolvimento.»

Desenvolver a fertilidade natural dos solos está para além das vantagens económicas directas. A fertilidade do solo apoia-se na melhoria da estrutura física do solo mas também no armazenamento de matéria orgânica e da actividade biológica que vai transformar essa matéria em elementos químicos que a planta possa absorver. Assim a fertilidade do solo assenta em 3 grandes pilares:

Fig. 1 - Os três grandes pilares da fertilidade do solo

Quando estes três princípios são respeitados nas práticas agrícolas dizemos que estamos perante uma agricultura de conservação (porque preserva o ecossistema solo e o meio ambiente envolvente).

1 - CARACTERÍSTICAS FÍSICAS: 

COMO MANTER E MESMO AUMENTAR O VOLUME DE MATÉRIA ORGÂNICA DOS SOLOS

A quantidade de matéria orgânica presente no solo é um factor essencial para a fertilidade física desse solo, favorecendo o crescimento e desenvolvimento das plantas permitindo obter um bom rendimento nas culturas. 

Mas também, numa visão mais alargada e de médio e longo prazo, contribui para limitar a erosão do solo; manutenção da fertilidade do solo; aumentar o potencial de duração do sistema para o futuro, melhorando e valorizando o nosso património. Assim, responde-se a objectivos de curto prazo mas também de médio e longo prazo. Porque este trabalho não se faz num ano ou dois. Por vezes leva uma dezena de anos. Sobretudo, quando se fala em recuperação de solos. Como já temos referido, há um conjunto de técnicas agrícolas que melhoram a qualidade dos solos a cada cultura e a cada ano. (ver página das NOVAS TÉCNICAS AGRÍCOLAS E A PERMACULTURA)

No solo tudo é uma questão de equilíbrio. As plantas nutrem-se de minerais, de gazes, de água. Mas se há um elemento que está presente em maior quantidade do que devia isso afecta o equilíbrio do solo. Tudo vai depender do tipo de solo que temos (e por isso é importante conhecer o nosso tipo de solo o que pode ser feito por meio de análises) e também do sistema de culturas que praticamos. Ou seja depende da situação de cada um e das praticas culturais que adoptamos.

As reservas de nutrientes no solo, não são iguais numa mesma parcela sobretudo quanto maior a sua dimensão. A isto chama-se variação espacial. Por isso, vemos por vezes num grande campo de cultivo, zonas em que as plantas de uma mesma cultura, não se desenvolveram tão bem ou estão mais amareladas enquanto no resto da parcela estão bem verdes e bem desenvolvidas. Porque a fertilidade do solo pode ser muito diferente de uma zona da parcela para outra. Por isso, em parcelas grandes ou muito grandes é importante fazer um mapeamento da parcela com amostras de solo para verificar como agir e que nutrientes oferecer ao solo para cada zona diferente do mapa. Isto para poder oferecer ao solo o que ele precisa no local certo, obtendo assim um melhor rendimento global.

Mas, enfim, isto é numa agricultura de precisão e de grandes dimensões. Nós dirigímo-nos essencialmente a agricultores amadores com pequenas hortas ou pequenas parcelas, na sua maioria em sistema de auto-consumo. Mas achámos importante referir este facto.

Estudos científicos demonstraram que quando se aumenta o nível de matéria orgânica no solo (Carbono), verifica-se rapidamente uma melhoria da fertilidade física do solo o que em consequência melhora o rendimento na cultura seguinte e globalmente, a médio prazo os solos tornam-se mais estáveis e de melhor qualidade repercutindo no desenvolvimento das culturas e no aumento da sua resistência ao stress.

Há várias soluções para aumentar o volume de matéria orgânica: 

1 - Evitar fazer anualmente, na mesma parcela, culturas que sejam grandes consumidoras de húmus, como por exemplo batata. Por isso a rotação de culturas é importante. (Ver o esquema da Rotação de Culturas)

2 - Limitar o trabalho do solo (com a redução do labor do solo observa-se uma melhoria das propriedades físicas do solo):

Para evitar:

  - Trazer à superfície uma quantidade importante de terra revolvendo-a, alterando assim as camadas do solo e da micro-fauna aí presente; 

    - Limitar o ressequimento da terra;

    

3 - Evitar a compactação do solo por calcamento colocando palha ou outro material vegetal nas zonas de passagem;

4 - Cobertura permanente do solo

O solo nunca deve estar a nu, por isso entre duas culturas, podemos intercalar um adubo verde para manter o solo coberto (e os restos desse adubo verde serão incorporados no solo para a cultura seguinte), evitar o encharcamento no Inverno e ela vai captar o azoto da atmosfera para a cultura seguinte.

4 - Utilizar fertilização orgânica para aumentar a quantidade de matéria orgânica:

    - Estrume
    - Composto

    - Cinza

   - Matéria vegetal (restos de poda triturados; folhas; palha; plantas cortadas; deixar resíduos de culturas no solo e incorporá-los)

    - Adubo verde

5 - Praticar associação de culturas

Sabemos hoje que a associação de culturas é benéfica porque as plantas oferecem umas às outras aquilo de que necessitam para se desenvolver.

2 - CARACTERÍSTICAS MINERAIS:

COMO MELHORAR A ESTRUTURA MINERAL DO SOLO

A fertilidade física não basta, é preciso também ter em conta a fertilidade química do ecossistema solo. As plantas necessitam de uma série de elementos químicos em quantidades diferentes e consoante a sua espécie para terem um bom desenvolvimento.

As plantas necessitam de Carbono (C), de Oxigénio (O), de Hidrogénio (H) presentes no ar e na água; mas também de macro-nutrientes como o Azoto (N), o Potássio (K), Fósforo (P), Cálcio (Ca), Magnésio (Mg), Enxofre (S); e claro de micro-nutrientes como Ferro (Fe), Manganês (Mn), Zinco (Zn), Cobre (Cu), Cloro (Cl), Molibdênio (Mo), Sódio (Na), Níquel (Ni); e outros elementos que podem ser benéficos ou mesmo essenciais para algumas espécies como Silício (Si) e Cobalto (Co).

Há duas soluções para aumentar o volume de minerais no solo:

1 - De forma natural, pela reciclagem da matéria orgânica:

- mineralização da matéria orgânica por fragmentação e oxigenação através da actividade microbiana e enzimática do solo;

2 - De forma não natural:

- adubando com produtos químicos (geralmente oferecemos 3 elementos N, P e K, quando já vimos o solo necessita de muito mais);

- mineralização da matéria orgânica por fragmentação e oxigenação artificial devido em parte ao trabalho do solo;

Mas nada iguala o trabalho da natureza pois se a deixarmos trabalhar o resultado é muito melhor. A Natureza trabalha de forma sábia.

Não basta a acumulação de matéria orgânica porque é necessário que ela se "degrade", é necessária a reciclagem da matéria orgânica em elementos minerais simples acessíveis às plantas (através das suas raízes), esse é o trabalho dos micro-organismos presentes nas diversas camadas do solo.

3 - ATIVIDADE BIOLÓGICA 

É a estrutura biológica organizada e eficaz que vai assegurar a reciclagem da biomassa. Ou seja, é a micro e macro-fauna do solo, que  participa em diversas funções no solo, é que vai transformar a matéria orgânica, decompondo-a, de forma a que sejam libertados os elementos necessários às plantas e capazes de serem por elas absorvidos. Além de que esta atividade favorece a porosidade do solo o que melhora a infiltração de água, a sua drenagem. Permitindo a circulação de elementos químicos de onde as raízes das plantas vão tirar os elementos que lhes são necessários.

Por isso, não devemos perturbar esta atividade biológica remexendo o solo. Podemos e devemos arejar o solo mas não alterar as suas camadas.

Assim, podemos aumentar a matéria orgânica no solo mas é a atividade biológica que vai «tratar» essa matéria de forma a que seja melhorada a estrutura química para que o solo seja mais equilibrado e rico para que as culturas seguintes se beneficiem. 

São necessárias trocas de matéria orgânica e mineral entre os seres vivos presentes no solo para determinar o nível de fertilidade do solo. A diversidade de um ecossistema é que garante o fornecimento da totalidade dos elementos no momento adequado. E assim as plantas resistem melhor ao stress, às agressões e a doenças, levando à redução de tratamentos.

Leia também: AGRICULTURA ORGÂNICA É MAIS VANTAJOSA! CONFIRMADO

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