COMBATE BIOLÓGICO

PROTECÇÃO DAS CULTURAS POR MÉTODOS NATURAIS - Sem recurso à utilização de pesticidas.

Pragas e Doenças - As pragas combatem-se e as doenças previnem-se.

O nosso objectivo é obtermos culturas sãs, em agricultura biológica, sem utilização de produtos químicos, sem perturbar os ecossistemas agrícolas e agro-florestais, utilizando mecanismos naturais para lutar contra inimigos das culturas.

De forma indirecta, vamos utilizar medidas que previnem ou não favorecem a instalação de doenças e pragas: 

    * Estudar a localização da parcela para a cultura pretendida, de forma a que não fique numa localização desfavorável: zona muito húmida, ou muito ventosa, ou muito sensível devido a presença nas proximidades de culturas que possam atrair pragas a que as culturas que queremos instalar sejam sensíveis. 

    * Um dos principais meios de evitar pragas é a rotação de culturas e a associação ou consociação de culturas. Ou seja, não plantar duas épocas seguidas a mesma cultura na mesma parcela e  associar duas ou três culturas simpáticas, para que se protejam umas às outras. Plantando  junto das plantas que queremos proteger, outras plantas que afugentam pragas. Por exemplo, o insecto que ataca uma cultura é afastado pela presença de outra cultura que é desagradável a este insecto. Para afugentar pulgões: plantar alfazema; cravos da índia; capuchinhas, junto à cultura a proteger;  para afugentar formigas: plantar menta; alfazema; cravos da índia e espalhar limão cortado junto da cultura que pretendemos resguardar das pragas. A conservação da biodiversidade natural é não só um meio como um objectivo na obtenção de culturas sãs.

    * Usar sementes biológicas de qualidade e preferir as regionais, pois estão melhor adaptadas à região, tornando-se mais resistentes, naquela região. Se possível use as suas próprias sementes e faça estacas das suas plantas.

    * Higiene das ferramentas e equipamentos utilizados. Limpe-as regularmente, para evitar passar doenças às culturas a instalar. Ferramentas sempre limpas e desinfectadas. Sobretudo ferramentas de poda (sempre desinfectadas com álcool e bem afiadas).

   * Medidas de protecção e auxílio aos insectos polinizadores e amigos das culturas. Instale plantas que atraem estes insectos e coloque, num canto da horta ou pomar, uma abrigo para insectos amigos.

De forma directa, observando e tratando:

   * Monitorizar as culturas com bastante frequência para detectar precocemente potenciais agressores, de forma a actuar rápida e eficazmente. 

   * Retirar todas as partes doentes da planta mas não as colocar na composteira. Queime-as ou deite no caixote do lixo, para serem incineradas.

   * Monda manual das infestantes (que podem ser dadas aos animais da quinta para alimento). Num ecossistema equilibrado o que não serve a um dos elementos do ecossistema, é utilizado por por outro elemento desse mesmo ecossistema.

    * Utilização de armadilhas à base de feromonas (substâncias segregadas pelos seres vivos que  regulam comportamentos reprodutivos). Cada espécie produz uma feromona especifica, permitindo capturar o tipo de insecto nocivo, especifico. Nos insectos, a feromona é normalmente emitida pela fêmea e tem como objectivo atrair sexualmente o macho que a consegue detectar a vários quilómetros de distância. Desta forma pode-se controlar as populações das pragas nocivas.

     * Largada de auxiliares. Por exemplo, se tiver muitos pulgões, coloque larvas de joaninha pois são vorazes por pulgões. Cada lagarta come cerca de 50 pulgões/dia. Evite rega com regador, prefira rega de mangueira com um bom repuxo, por vezes é muito útil e saem muitos pulgões só com a rega um pouco mais forte.

      * Associação/consociação de culturas. Pode e deve fazer associação de culturas para ajudar as plantas a protegerem-se umas às outras. A biodiversidade é muito útil como forma de prevenir as pragas e doenças. Plante alfazema, alho francês ou menta debaixo das fruteiras mais sensíveis aos pulgões). (Ver página da Associação/consorciação de culturas)

    * Utilização de Biopesticidas e Bioadubos. Fabricação de infusões e preparados caseiros para borrifar ou regar as culturas para as proteger ou ainda fazer hormonas de enraizamento caseiras.

        1- Biopesticidas são substâncias naturais com acção pesticida que controlam pragas. (Ex: Consolda; Urtigas; Hortelã; Alfazema; Cavalinha; Cinza) 

(RECEITAS):

1.1 – Solução de Urtigas (Urtica) – Repulsivo de Pragas - Uma das plantas medicinais mais úteis e eficazes. Tem propriedades depurativas, diuréticas e anti-inflamatórias. Usada também como adubo verde e insecticida, contra pulgões e alguns ácaros.

          1 kg de urtigas 

20 l de água

Arrancam-se as folhas à mão (com luvas); Trituram-se as urtigas, mistura-se com a água e deixa-se macerar durante 1 ou 2 semanas mexendo todos os dias. Quando já não tem espuma, filtra-se. Está pronto a pulverizar sobre as folhas das árvores a tratar sem diluir.

Outra Receita de urtigas:

2 kg de folhas de urtigas;
20 l de água;

Arrancam-se as folhas à mão; cortam-se (à mão) grosseiramente; colocam-se dentro de um saco de rede (de batatas ou cebolas). Enche-se um recipiente com os 20 l de água, mergulha-se o saco de rede com as folhas de urtigas lá dentro e deixa-se macerar 15 dias, tapado para aumentar a temperatura. Mexendo todos os dias e conservar tapado. Quando deixar de ter espuma está pronto. Retira-se o saco de rede, e usa-se diluído à razão de 1l de solução de urtigas para 10 l de água. O restante da solução pode guardar depois de filtrada, num garrafão plástico mantido à sombra. 


           1.2 - Infusão de Urtigas (Urtica) - Contra ácaros e piolhos (pulgões. Se tiver pulgões (piolhos) nas plantas, antes de qualquer tratamento passe um jato de água forte com a mangueira para que eles caiam. Deixe secar a planta e depois aplique o tratamento.

            1 kg de urtigas
10 l de água
Leva-se a ferver a água com as folhas de urtiga e depois de ferver apaga-se o lume. Deixa-se repousar 12 horas. Retiram-se as folhas de urtiga. Dilui-se a 10% em água e aplica-se com pulverizador.

1.3 - Infusão de Consolda (Symphytum officinale) - Como insecticida combate a mosca branca e pulgões. Rica em cálcio, potássio, fósforo, ferro e magnésio. Foi usada desde a Antiguidade como planta medicinal. Na última década, passou a ser muito procurada pela agricultura biológica, pois é um bom fertilizante e repulsivo de pragas.

8 Folhas grandes de consolda

1 l de água

Cortam-se as folhas e faz-se uma infusão durante 20 m. Repousa 4 h e pulveriza-se sem diluir, nas plantas a tratar.

1.4 – Insecticida natural – Contra insectos e outros parasitas

 Folhas de hortelã (mentha arvensis) e folhas de manjericão (ocimum basilicum) em partes iguais.

1 l Água 

Mistura-se tudo, Deixa-se 24 ou 48 h côa-se e pulveriza-se a planta a proteger.

   
        1.5 - Infusão de Cavalinha (Equisetum) - Evita fungos que provocam doenças como lepra e pedrado. Usada tradicionalmente para fins medicinais. Na agricultura biológica é usada como um poderoso fungicida. Contra ferrugem, podridão, oídio e míldio.

            1 kg de erva fresca (ou 200 g seca)
            10 l de água
Deixe a cavalinha em água fria durante 24 h.  Depois, leve a ferver 20 minutos e repousa 12 horas. Utiliza-se diluído em água a 20%. Vaporiza-se sobre a planta depois de frio.

          1.6 - Calda de Cinza - Contra piolhos (pulgões) e mosca branca. Usa-se depois de aparecer a praga.

               10 l de água
               2 kg cinza
              200 g de sabão azul e branco
Coloca-se o sabão na água, leva-se a ferver e junta-se a cinza. Mexe bem e deixa arrefecer. Utiliza-se a 5% (5% de calda de cinza para 95% de água)


        1.7 - Solução de Ruibarbo - Acção insecticida e fungicida. Contra pulgões e outros; (As folhas de tomate têm o mesmo efeito repulsivo).

             1 kg de folhas de Ruibarbo cortadas em bocados pequenos
             10 L de água (da chuva de preferência)

Mistura-se as folhas verdes e sãs com a água e deixa-se macerar durante 1 semana mexendo todos os dias. Depois filtra-se. Está pronto a pulverizar sobre as folhas das árvores a tratar sem diluir. A solução não se conserva bem deve ser utilizada até 2 dias depois.

            1.8 - Infusão de Ruibarbo - Insecticida contra pulgões e fungicida.
          
            1 kg de folhas verdes e sãs cortadas
            5 L de água

Coloca-se a água a ferver e quando começa a ferver colocam-se dentro as folhas, mexe-se e tira-se do lume. Deixa-se a mistura repousar 24 h. Ao fim desse tempo filtra-se e está pronta a usar.

             1.9 - Solução de Fetos silvestres (Samambaias) - Contra doenças criptogâmicas (mildio, ferrugem) ou como inscticida diluido a 10% (principalmente contra pulgões (piolhos)). Os fetos foram moda durante a Era Vitoriana (Junho de 1837-Janeiro de 1901) no Reino Unido.

Colha as folhas grandes, bem verdes, dos fetos das matas com uma faca ou tesoura. Corte-as aos bocados e coloque-as num saco de rede (de batatas ou cebolas). Mergulhe estes saco num recipiente (de preferência de madeira) cheio de água. Deixe macerar 2 ou 3 semanas. Ao fim desse tempo retire o saco com as folhas, filtre para retirar impurezas e pulverize para tratar ou impedir doenças. Diluído a 10% serve como insecticida natural.

DICA: Para o saco com as folhas mergulhar bem, pode colocar uma pedra no saco.


      2 - Biofertilizantes são Substâncias que quando aplicados nas sementeiras, superfície da planta, ou solo, promove o crescimento da mesma. (Ex: Estrume animal; compostagem; chorumes; Infusões).

           (RECEITAS):

            2.1 – Adubo de urtigas – Excelente fertilizante:

            1 kg de urtigas frescas

            10 l de água

Trituram-se as urtigas, mistura-se com a água e deixa-se macerar durante 1 ou 2 semanas mexendo todos os dias. Filtra-se. Usa-se 10% a 20% deste líquido para 90% ou 80% de água. Está pronto a deitar na terra junto do que se pretende adubar ou pulverizar como estimulante foliar.

            2.2 – Compostagem – O melhor e mais enriquecedor adubo que há

De preferência trituram-se todos os restos orgânicos crus da cozinha (excepto carne e peixe), misturam-se com todos os restos de jardim e da horta, também triturados, mistura-se estrume de animal e água; terra e deixa-se compostar mexendo de vez em quando, durante cerca de 2 a 4 meses. O chorume obtido a partir das folhas fermentadas de consolda pode ser usado na compostagem para acelerar o processo.

           
             2.3 - Adubo de Consolda - Grande fertilizante

             1 kg de folhas frescas
             10 l de água da chuva (menos calcária)

         Macerar as folhas na água, num recipiente plástico, durante 1 a 2 semanas. Mexa regularmente. Está pronto quando o liquido estiver escuro e as folhas no fundo do recipiente formarem um puré. Filtre, de modo a obter um liquido perfeitamente livre de impurezas. Pode ser usado ao longo de todo o período de crescimento e floração das plantas. Como adubo usa-se 10% deste líquido em 90% de água. Como repulsivo de insectos 5% deste líquido para 95% de água.

           2.4 - Biofertilizante

            3 l Esterco;

            7 l Água
            300 g de cinza

            Restos de pasto triturado

            Restos de verduras trituradas

            Restos de frutas Trituradas

            
Colocam-se todos os ingredientes num balde grande de plástico e deixa-se fermentar cerca de 1 semana. Para utilizar como adubo diluir em 2/3 de água e regar os pés das plantas. Para pulverizar nas folhas usar uma concentração de 3 a 5% de líquido (30 ou 50 ml) por cada litro de água.

            2.5 – Outra receita de compostagem

            3 Partes de verde

            1 Parte de desperdícios de madeira

        Coloca-se terra, depois coloca-se uma parte de desperdícios de madeira, depois coloca-se novamente terra, de seguida coloca-se o verde, mais terra e recomeça-se e rega-se bem. Revolver de tempos a tempos. Quando já não houver folhas inteiras nem paus está pronto (cerca de 4 meses depois).

3 - Enxofre - Contra a lepra do pessegueiro, depois que a doença se instalou. Quando a temperatura se situa 26-30ºC o fungo que provoca a praga não tem condições para viver.

             15g-35g de enxofre
             5 l de água

Mistura bem e pulveriza de 15 em 15 dias por tempo seco. Também se pode alternar com pulverizações de cavalinha.

       

FAÇA AS PULVERIZAÇÕES QUANDO NÃO HAJA VENTO E FORA DO PERÍODO DE FLORAÇÃO

Leia também: A página NOVAS TÉCNICAS AGRÍCOLAS E PERMACULTURA

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