PODA DE PEREIRAS

PEREIRAS (Pyrus domestica L.)

«Entre as árvores com que um agricultor pode enriquecer os seus campos, devemos colocar em primeira linha a macieira e a pereira, (...) quase sem desvantagens para as culturas herbáceas (...)»*
       Maison Rustique du XIX siècle,  Volume 2, pág. 145 - Encyclopédie d'Agriculture Pratique - Paris 1837

A pereira, tem origem na Ásia, provavelmente na China, tendo sido introduzida na Europa, massivamente, pelos romanos e mais tarde espalhada por todo o mundo através dos europeus.

Pode atingir 20 m de altura e viver 6 décadas, embora em plantações comerciais estes valores se reduzam consideravelmente. As variedades modernas já são árvores de porte muito menor, para facilitar a cultura e a colheita.

É uma árvore de forma piramidal, com raízes pivotantes e casca acinzentada. Folha caduca e flores brancas, que se agrupam em corimbos de 9 a 11 flores e são hermafroditas, ou seja, cada flor tem os dois sexos. Prefere solos profundos, ricos e frescos. Não gosta de solos arenosos, muito pesados ou muito calcários. Não aprecia secas nem ventos violentos, gosta de locais abrigados. Precisa de sol para frutificar. Aguenta bem até aos 1000 m de altitude.

Floresce de Abril a Maio e frutifica 2 a 4 anos após a plantação. A época de frutificação e maturação dos frutos depende da variedade e aclimatação ao clima da região. A primeira pereira a frutificar é a variedade Lawson, em Junho-Julho. Depois vai até Janeiro, consoante a variedade. Aduba-se com estrume no Outono e na Primavera.

A colheita faz-se de Julho a Janeiro consoante a variedade. Para saber se o fruto está bom para ser colhido, roda-se ligeiramente o fruto 1/4 sobre ele mesmo e o pedúnculo, deve separar-se da árvore sem o puxar. Se vê os frutos começarem a cair, já está mais do que em tempo, despache-se a fazer a colheita. A pêra é um fruto sensível, não suporta ser magoada.

Poda: Poda de Inverno durante a dormência e poda de verde. Pode ser conduzida em fuso, em pirâmide e em espaldeira. Há muitos que a conduzem em forma de taça mas não é adequado para ela devido à tendência natural de formar um eixo central.

Poda de Formação:

Como a pereira tem sempre tendência a fazer o eixo central, o melhor é deixar seguir a natureza e formar a estrutura da árvore à volta deste eixo central, seja em fuso ou em pirâmide. A forma em taça não é tão adequada, embora se veja bastante. Mesmo que a forme em taça vai sempre haver um ramo que se vai destacar para tentar dominar e formar um eixo central. A pereira pode ainda ser formada em espaldeira e outras formas tutoradas, que podem ser de diversas derivações: U simples; U duplo; em espinha oblíqua; ramos horizontais e em cordão (simples ou duplo). Estas formas são usadas para criar um «muro» vegetal e fazer a separação de áreas distintas ou colocadas junto aos muros e paredes fazendo a ocultação vegetal dos mesmos. (ver página da FORMA DAS FRUTÍFERAS)

Em Pirâmide: Existe um eixo central e os ramos dispõem-se à volta deste por níveis e em grupo, 3 ou mais níveis, consoante a altura do eixo central. 4 a 5 ramos em cada nível, formando os ramos um ângulo de 45º graus com o eixo central, com um espaçamento de 35 a 40 cm entre níveis e um espaçamento de cerca de 5-6 cm entre ramos. Esta forma de pirâmide é conhecida como pirâmide em girândola. Sendo que no 1º nível, os ramos são mais compridos que os do 2º nível em cerca de 30 cm e assim sucessivamente de nível em nível, sendo que o comprimento dos ramos do último nível é mais curto que nos níveis que lhe ficam abaixo. Na poda de Inverno, os raminhos que saem desta estrutura são podados a 5-6 gomos (olhos), acima de um gomo virado para o exterior. Na poda verde, em Maio-Junho podam-se os ramos novos a 7 folhas (quando têm o dobro de folhas) e em Julho, poda-se a 4-5 folhas os ramos novos. Também pode formar a pirâmide sem espaçamento entre os níveis, é a pirâmide normal.
                 
Figura 1 - Pirâmide girândola (há um espaçamento entre os diferentes níveis) e na imagem da direita Pirâmide normal.

Em Fuso: Existe um eixo central, o tronco, que se pretende venha a alcançar o máximo de 2 - 2,5 m de altura e ao longo deste eixo central, estão dispostos os ramos que formam a estrutura da árvore com uma disposição alternada e um espaçamento entre eles de 10 a 15 cm. O primeiro ramo da estrutura deve ficar situado, de preferência, do lado oposto ao ponto de enxerto. No final, a árvore pode ter 10 ou mais ramos, ao longo do eixo central, distanciados entre si de 10 a 15 cm. O primeiro ramo da estrutura está normalmente, a 60-70 cm do chão. Neste caso os ramos da estrutura formam, com o eixo central um ângulo superior a 45º graus, estão mais horizontais, para que a seiva se distribua mais equitativamente entre todos, melhorando assim a produtividade. Também aqui, o comprimento dos ramos estruturais, vai sendo menor à medida que se aproxima do topo da árvore, formando um cone. Na poda de Inverno, os ramos novos que saem desta estrutura, podam-se a 5-6 gomos, acima de um gomo virado para o exterior; o prolongamento dos ramos estruturais é reduzido de 1/3 do seu comprimento. Na poda Verde, em Junho podam-se os ramos novos a 7 folhas (quando têm o dobro de folhas) e em Julho a 4-5 folhas.
Figura 2 - Pereira em forma de fuso.

Em Espaldeira: Dispõem-se os ramos estruturais segundo a forma escolhida (cordão; U simples; U duplo; em espinha oblíqua; ramos horizontais), com a ajuda de um tutor, durante a Primavera-Verão, enquanto os seus ramos estão verdes e permitem ser conduzidos sem quebrar. Na poda verde, poda-se a 4-5 folhas os raminhos novos, não se tocando no prolongamento da estrutura. Na poda de Inverno podam-se os ramos frutíferos a 3 gomos, acima de um gomo virado para o exterior e o prolongamento da estrutura reduz-se em 1/3.
   
       Figura 3 - Um exemplo de Pereira em espaldeira, neste caso vê-se os ramos estruturais da espaldeira obliqua ou leque. Imagem da esquerda no Inverno, imagem da direita na Primavera/Verão.

Poda de Manutenção:

Pratica-se todos os anos. Durante o período de dormência da árvore. Faz-se uma poda de limpeza e continua-se a formar e a prolongar a estrutura da árvore consoante a forma escolhida ou a corrigi-la se for o caso. Na Primavera-Verão pratica-se a poda verde.

Comece por observar a árvore que pretende podar. Não tenha pressa. Observe bem a estrutura da árvore começando pelo pé da árvore e vá subindo. Observe a forma dela. Analise bem o que vai podar.

- Poda de Inverno:

Poda-se toda a madeira seca ou doente (10 cm abaixo da parte doente). Ramos ladrões abaixo do 1º ramo do esqueleto da árvore, bem como ramos que se cruzem. Limpa-se o terreno à volta do pé da árvore e aduba-se na Primavera com estrume.

Reduz-se os prolongamentos da estrutura em 1/3 do que cresceu no ano; podam-se os novos ramos frutíferos, consoante a forma da árvore: pirâmide, fuso e em taça a 5-6 gomos acima de um gomo virado para o exterior. Se for uma forma em espaldeira (ver a página da Forma das Frutíferas), poda-se a 3 gomos (olhos). O objetivo é sempre aproximar a frutificação da estrutura principal para os frutos receberem o máximo de seiva. Contudo, veja se já existem ramos florais formados e se não estão a mais de 10-15 cm da estrutura. Se sim, nesses não lhes toque, senão, vai suprimir a frutificação desse ano. Pode cortá-los no ano seguinte a 3 olhos também.


Se o tronco tiver musgos secos, pode limpá-lo com uma escova de nylon que não magoe o tronco e água simples. Depois pulveriza-se a árvore com um produto biológico, para a proteger das pragas. Também pode pincelar o tronco com argila; uma mistura de cal-viva e água com a consistência de uma tinta ou outro produto biológico para proteger a frutífera contra futuras pragas e eliminar qualquer uma que tenha ficado no tronco. 



Figura 4 - Ramo de pereira com 3 anos sem gomos florais (cada numero 1,2,3 representa 1 ano de crescimento) - Como não teve poda durante 3 anos fez-se uma poda mais severa para forçar os gomos florais a formarem-se

Figura 5 - O mesmo ramo de pereira após a poda já com gomos florais

- Poda Verde:


Em Junho podam-se os ramos novos a 7 folhas (quando tiverem o dobro) e em Julho podam-se a 4-5 folhas. Quando tiverem fruto, poda-se 2 folhas após o último grupo de frutos, para que a seiva se concentre mais nos frutos e estes fiquem maiores e de melhor qualidade. Quando houver um ramo que parta do esporão, ao lado dos frutos, este poda-se entre 2 a 4 folhas para que frutifique ainda no ano seguinte. Após a queda fisiológica de frutos em excesso verifique cada ramo de frutos (geralmente, 7 frutos/ramo) e veja se ainda precisa de retirar alguns frutos de cada ramo (Ex: os que estão muito mais pequenos em relação aos outros), para que os restantes recebam mais seiva e se desenvolvam melhor.


QUADRO DE PODA

PODA DE INVERNO
PODA VERDE
Reduzir o prolongamento dos ramos estruturais em 1/3 do seu comprimento. 
Formas em espaldeira: Podar os ramos novos a 3 gomos , excepto se houver ramos florais com 10-12 cm de comprimento. Nesse caso não lhes toque pois iria suprimir a frutificação. 
Outras formas (taça; fuso; pirâmide): podam-se a 5-6 gomos.
Formas em taça, fuso ou pirâmide: Junho podam-se ramos novos a 7 folhas (quando têm o dobro); em Julho podam-se a 4-5 folhas. Quando têm fruto poda-se 2  folhas após o último fruto
Formas em espaldeira: podam-se ramos novos a 4-5 folhas (quando têm o dobro).
Quando há fruto poda-se a 2 folhas após o último grupo de frutos. 
Quando há um ramo que parte do esporão ao lado dos frutos, este poda-se entre 2 a 4 folhas.


Exemplo de pereiras não podadas:


Pereira não podada - Vê-se um emaranhado de ramos; não há frutos; os ramos secundários são tão compridos e grossos como os principais; os ramos frutíferos estão excessivamente compridos; a árvore perde a sua forma original e por fim deixa de produzir. Além de não ter sido podada nem em seco (poda de Inverno), nem em verde (poda verde), também não foi adubada nem regada. Está completamente negligenciada. Pior ainda, tem outra frutífera mais jovem, mesmo ao lado (lado direito da imagem), que lhe rouba todos os nutrientes. É por tudo isto que devemos podar as frutíferas e adubá-las todos os anos no inicio da Primavera e respeitar o compasso (distância) entre elas.


Pereira não podada - Ramos secos, mortos e doentes convivem lado a lado na árvore com ramos do ano; musgos e líquenes secos agarrados aos troncos e ramos; não teve poda verde pois ramos do ano estão excessivamente compridos; está a perder a sua forma e a desequilibrar-se; falta de água e de adubo.


Pereira não tratada - tronco coberto de musgos e líquenes secos

É por tudo isto que não devem acreditar quando alguém vos diz que as árvores de fruta não se podam. As árvores, tal como os animais precisam de um mínimo de cuidados. Se perderem alguns minutos de tempos a tempos, elas retribuem com uma frutificação de qualidade e abundante.

* Tradução: Jardiminhoto
Imagens: Jardiminhoto



Poda Verde da Pereira




Leia também: A página PORQUÊ PODAR, O QUE PODAR, QUANDO PODAR
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11 comentários:

  1. Bom dia,
    Muito obrigado pelos seus ensinamentos, que estão cada vez melhores. Especialmente neste caso, da poda da pereira, com as imagens que publicou está tudo muito mais compreensível.
    Bem haja,
    Manuel Barros

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    1. Olá Manuel, bom dia. Obrigada pelo seu comentário e por partilhar a sua opinião. Procuro sempre alguma maneira para facilitar mais a compreensão para todos. Bem haja.

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  2. Boa tarde. Obrigado pela informação, sempre muito informativo.

    "Na poda verde, em Maio-Junho podam-se os ramos novos a 7 folhas (quando têm o dobro de folhas) e em Julho, poda-se a 4-5 folhas os ramos novos."
    Se não fizer a poda em Junho e só conseguir em Julho, poda-se a 4-5 folhas os ramos novos quando tem o dobro de folhas? Tem um impacto muito grande não fazer a poda em dois momentos?

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    1. Olá obrigada pelo seu comentário. Não, o importante é que faça a poda verde uma vez. Se podar em Julho poda 4-5 folhas os ramos novos sem fruto e quando tem fruto poda 2 folhas após o último fruto. Basta isso para garantir a frutificação do próximo ano. Bem haja!

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  3. Olá. Muito obrigado pela explicação. Quando refere "Podar os ramos novos a 3 gomos", o que significa? Obrigado.

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    1. Obrigada pelo comentário. Podar a 3 gomos significa podar a 3 olhos contando a partir da base do ramo. Veja as imagens na página da poda da pereira. Veja também a página Porquê podar, O que podar, Como podar deste blog. Obrigada.

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  4. Boa noite.
    Há duas frases que usam sobre um dos passos na poda de inverno que acho que não são equivalentes, ou então estou a interpretar mal. Podem esclarecer, obrigado?
    1. "Reduzir o prolongamento dos ramos estruturais em 1/3 do seu comprimento"
    2. "Reduz-se os prolongamentos da estrutura em 1/3 do que cresceu no ano"

    Tenho dúvidas se é 1/3 do comprimento do ramo inteiro (incluindo o comprimento dos anos anteriores), ou 1/3 apenas do que cresceu no ano?

    Agradecido

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    1. Obrigada pelo seu comentário. Será 1/3 do que cresceu no ano, a menos que seja uma planta que não é podada há muito tempo e aí terá de reduzir 1/3 do comprimento total do ramo. Bem haja!

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  5. Boa noite. Sou mesmo ignorante nisto mas estou a tentar aprender.
    "Contudo, veja se já existem ramos florais formados e se não estão a mais de 10-15 cm da estrutura. Se sim, nesses não lhes toque, senão, vai suprimir a frutificação desse ano. Pode cortá-los no ano seguinte a 3 olhos também."
    Têm alguma foto do que designam por "ramos florais"?
    Agradeçoo desde já o vosso excelente trabalho.
    Bem hajam.

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  6. Bom dia, desde já obrigado pelo excelente trabalho neste blog. Tem ajudado imenso. Comprei um terreno recentemente e tenho lá uma pereira com furos no tronco principal, portanto, terá bicho no interior. Será que pincelar com cal poderá salvar a árvore? Há alguma outra coisa que eu possa fazer? Obrigado desde já.

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