NOVEMBRO

«Se queres pasmar o teu vizinho, lavra, sacha e esterca pelo São Martinho»
(Provérbio popular)

PODA DE INVERNO (ou Poda Seca)

É frequente ouvir jardineiros amadores dizerem que têm receio de podar as frutíferas e de estragar tudo e muitos preferem não fazer nada porque não sabem podar. Ou que alguém lhes disse que as árvores não precisam de poda.

A poda deve ser realizada em fruticultura, sim. Para saúde da própria árvore e também para regular a produção, melhorar a qualidade dos frutos e proporcionar à árvore um equilíbrio entre frutos e vegetação, facilitando uma boa distribuição de frutos por toda a árvore. Ao mesmo tempo que se pretende melhorar a penetração da luz e o arejamento da copa, para evitar pragas e doenças (muitas doenças podem ser evitadas se o ar puder circular livremente pelo interior da planta). A poda pretende, portanto, aproximar a frutificação da estrutura da árvore, de forma a que os frutos recebam mais seiva e assim, transformar gomos foliares em gomos florais.

Uma frutífera não podada, vai crescer de forma desorganizada, com ramos mal colocados ou mesmo de forma tortuosa. A copa fica mal iluminada e os ramos frutíferos vão ser muito compridos, quase todos despidos de frutos e depois na ponta dos ramos uns frutos, pequenos, mirrados e por vezes até amargos. Além disso, vai crescer demasiado, em altura, ficando os frutos do topo inacessíveis à colheita. As frutíferas não devem ter mais de 2,20 m - 2,50 m para se poderem colher todos os frutos e para que estes não fiquem muito pequenos por receberem menos seiva. (ver página PORQUÊ PODAR, O QUE PODAR, QUANDO PODAR)

A poda de Inverno realiza-se durante o período de seiva descendente, quando a árvore já não tem folhas. Realiza-se no Outono-Inverno (de Novembro a Fevereiro), sendo por isso chamada a poda de Inverno ou poda seca. É também o momento de realizar a poda de rejuvenescimento ou de regeneração (para árvores mais velhas ou que tiveram longos anos sem poda).

Em regiões frias e em que gela deve haver o cuidado de realizar a poda fora da época de gelo ou dias muitos frios ou de ventos fortes, neste caso pode fazer-se mais tarde (Fevereiro), mas sempre enquanto dura o período de seiva descendente. É nesta altura que se fazem as podas maiores e se corrige a estrutura da árvore quando for caso disso. É a época de poda para pereiras, macieiras, cerejeiras, romãzeiras, ameixeiras, pessegueiros, diospireiros, marmeleiros, alperceiros (damasqueiros), mirtilos, groselheiros, framboeseiros, entre outros. 

As figueiras bíferas; as nespereiras Eriobotrya japonica, os citrinos, sobretudo laranjeiras e tangerineiras, e por vezes pessegueiros, em regiões frias e/ou húmidas, devem ser protegidas com um tela térmica até ao final do Inverno ou mesmo até ao fim da época das geadas.

A poda de Inverno estimula o desenvolvimento vegetativo da árvore. Portanto poda-se madeira morta, madeira doente, ramos mal colocados, ramos ladrões e reduzem-se os ramos que deram fruto. Reduz-se o prolongamento dos ramos estruturais em 1/3 do seu comprimento. Podam-se os ramos frutíferos acima de um determinado numero de gomos, consoante a espécie de cada árvore. A poda faz-se sempre acima de um gomo virado para o exterior.

Para saber como podar e o que podar em cada espécie de frutífera, consulte a página da frutífera que pretende, no lado direito do seu ecrã, clicando no nome da frutífera.

Exemplos de frutíferas não podadas:


Fig. 1 - Pereira não podada - Vê-se um emaranhado de ramos; não há frutos; os ramos secundários são tão compridos e grossos como os principais; os ramos frutíferos estão excessivamente compridos; a árvore perde a sua forma original e por fim deixa de produzir. Além de não ter sido podada nem em seco (Inverno), nem em verde (poda de Verão), também não foi adubada nem regada. Está completamente negligenciada. Este é um dos casos em que a árvore pode e deve ser recuperada.


                                                             Fig. 2 - Marmeleiro não podado - Os ramos ladrões não foram podados e ganharam força e vigor em detrimento dos ramos estruturais; os ramos frutíferos estão despidos, só têm uns frutos doentes nas pontas; os ramos secos, mortos e doentes permanecem na árvore e também se vêem frutos mumificados. Além disso, mesmo junto a este marmeleiro cresceu uma romãzeira  (lado esquerdo da imagem), que também ela está totalmente negligenciada e rouba nutrientes ao marmeleiro. Deveria ser transplantada para outro local, assim não faziam concorrência, uma à outra, por nutrientes.














Fig. 3 - Laranjeira não podada - Árvore desequilibrada, com muitos ramos mortos e secos estando a perder a sua forma original; poucos ramos frutíferos;ramos estruturais despidos de ramos frutíferos na sua base; alguns frutos, ainda verdes no topo da árvore; folhas muito amareladas denunciado falta de adubo, de ferro e de de rega. Se e quando chegarem a ficar maduros estes frutos não se podem comer de tão amargos que serão.

COMO RECUPERAR ÁRVORES FRUTÍFERAS 

Têm-nos pedido para abordar o tema da restauração de árvores de fruto que foram negligenciadas durante alguns anos. Como proceder? Podemos salvá-las? Poderão ainda ser recuperadas? Nos artigos e páginas deste blog temos insistido na necessidade de praticar a observação das suas árvores frutíferas antes de iniciar qualquer tratamento. Pois bem, observe-se bem a árvore em questão.

Se a árvore em plena Primavera/Verão não tem folha nenhuma, não apresenta sinais de vida, se os ramos estiverem secos e quebradiços, provavelmente já não haverá nada a fazer a não ser arrancá-la e escolher o local para plantar uma substituta, escolhendo com critério que árvore vai plantar e onde. (Ver página COMO ESCOLHER A SUA ÁRVORE FRUTÍFERA).


Mas a natureza é sábia e na maior parte das vezes não é isso que acontece e as árvores podem ainda ser recuperadas. Porque as árvores são muito resistentes. Na maioria dos casos cresceram de forma desordenada, tendo perdido a forma inicial com que foram formadas; têm muitos ramos que se cruzam e se tocam, provocando feridas nesses ramos; têm ramos estruturais encavalitados uns nos outros; têm muitos ramos secos; devido a todos esses ramos que se cruzam por todo o lado, a árvore está mal arejada, mal iluminada e os troncos podem apresentar musgo e líquenes; têm pouca madeira nova e consequentemente poucos frutos e os que têm estão mirrados, amargos ou doentes; têm falta de nutrientes porque não foram adubadas durante muito tempo, e por vezes outras plantas que nasceram junto ao pé estão a roubar-lhes os poucos nutrientes; falta de regas e de tratamentos. Só precisam de cuidados e tratamentos.


Então sim, uma boa noticia, estas árvores podem ser recuperadas. Mas atenção, essa recuperação não pode ser feita de uma vez só, num só ano. Temos que ir por etapas e ver como é que a árvore vai responder. Porque consoante a sua resposta assim agiremos, pode-se avançar mais ou menos depressa. Muito importante, este trabalho deve ser feito durante o período de dormência da árvore (Novembro-Fevereiro). Vejamos como:

1º - Limpar o terreno à volta da árvore;

2º - Retirar lançamentos que cresceram abaixo do 1º ramo estrutural (são ramos ladrões), para termos uma melhor vista do conjunto;
3º - Observar a árvore para ver qual era a sua forma e assim saber o que podar, consoante a forma inicial e a sua espécie;
4º - Restituir à árvore a sua estrutura, os seus ramos estruturais, que são a «coluna vertebral» da árvore, de onde sairão na Primavera os novos ramos;  
5º - Eliminar todos os ramos secos, mortos e doentes pela sua base;
6º - Eliminar os ramos que vão para o interior da árvore, para a arejar e para que a luz solar penetre bem (é importante para evitar as humidades que criam líquenes e atraem pragas);
7º - Escolher os ramos melhor posicionados e menos velhos para ficarem, consoante a forma da frutífera (Ver página da Forma das Frutíferas) e retirar 1/3 do comprimento dos ramos estruturais (ficam 2/3);
8º - Podar os ramos do ano conforme aconselhado para cada espécie (ver página de cada árvore frutífera); 
9º - Aplicar uma pasta cicatrizante nos cortes maiores;
10º - Depois da poda pulverizar com um produto para evitar pragas e proteger a árvore. Pode ser uma infusão de Cavalinha ou de Urtiga ou de Consolda (Consultar a página de COMBATE BIOLÓGICO); 
12º - Coloque um pouco de composto e palhe à volta da árvore para evitar encharcamentos, essa palha ao decompor-se vai ajudar a nutrir a árvore;
13º - Limpar o tronco com uma escova de nylon e água, deixar secar bem e aplicar uma calda espessa de argila e água pode misturar-se um pouco de cinza de madeira peneirada e um pouco de óleo vegetal para aderir melhor ao tronco (esta calda, deve ter a consistência de uma tinta) e aplica-se com uma trincha ou um pincel ao longo do tronco até aos primeiros ramos estruturais;
14º - Na Primavera adube com um adubo orgânico e vá observando o comportamento da árvore e se vir que surgem lançamentos junto ao pé ou no tronco antes do 1º ramo estrutural, elimine-os todos pela base, pois são ramos ladrões que roubam nutrientes ao resto da árvore;
15º - Na Primavera/Verão pratique a poda verde (naquelas árvores em que se faz a poda verde);
16º - Nos Invernos seguintes, durante o período de dormência vá continuando a recuperar a estrutura da árvore e a podar, limpar, adubar e tratar.



Imagens: Jardiminhoto

Leia também: A página COLHEITA E CONSERVAÇÃO DOS FRUTOS
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1 comentário:

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